Este blogue descreve os habitats e testemunha a grande biodiversidade que existe no "Triângulo do Cabo Mondego" - que abrange a área do Estuário do Rio Mondego - Serra da Boa Viagem e Cabo Mondego com recifes - Praia e Dunas de Quiaios e Lagoas de Quiaios. Também pretendemos focar o "habitat" social e ambiental da espécie humana, sobretudo nas suas condições em Portugal.

Friday, September 26, 2014

Praia de Quiaios - O (Des)Equilíbrio entre Dunas e Turismo

Praia de Quiaios - O (Des)Equilíbrio entre Dunas e Turismo Sazonal


A Praia de Quiaios possui umas dunas que ainda se encontram num estado razoável de protecção. Uma das causas é um estrado em madeira, construído sob direcção do ICNB, que conduz os turistas para a praia e ao longo da mesma sem permitir que pisem as dunas primárias e dunas secundárias desta praia.

No entanto, menos protegidas são as dunas embrionárias que se encontram nesta praia. Existem nas dunas embrionárias e na transição para as dunas primárias plantas como Elymus farctus, Cakile maritima, Otanthus maritimus, Euphorbia peplis, Eryngium maritimum etc.


Dunas embrionárias com Elymus farctus, Eryngium maritimum, Euphorbia paralias, Euphorbia peplis, etc. na Praia da Murtinheira

Estas dunas móveis são o habitat onde o pequeno limícole Charadrius alexandrinus (Borrelho-de-coleira-interrompida)  nidifica na Primavera. Charadrias alexandrinus que se encontra também na Praia de Quiaios, põe os ovos numa pequena depressão de areia no meio da vegetação destas dunas - e os ovos deste pequeno pássaro podem facilmente ser pisados. O mesmo é válido para os jovens nidifugos desta ave que saem logo depois do nascimento do "ninho" a correr com a mãe na praia. Quando houver perigo eles ficam parados numa depressão arenária enquanto a mãe tenta desviar o "intruso" dos seus filhotes. Muitas vezes a mãe finge  ter uma asa partida ou estar ferida para desviar o inimigo da cria.




Ninho de Charadrius alexandrinus entre Otanthus maritimus e Euphorbia paralias numa duna primária da Praia de Quiaios

Isto funciona com predadores naturais, mas não com veículos como moto quatro ou outras viaturas.

Por isso, não devíamos pisar estas dunas em tempos de nidificação ou pós-nidificação destas aves. Mas também não devíamos pisa-las em outras alturas do ano para garantir a sua protecção. Estas dunas embrionárias são uma componente muito importante na fixação das areias e na conservação das dunas. A gramínea Elymus farctus é a única gramínea que consegue colonizar as dunas ao nível da praia fixando as areias com as suas longas raízes. A sua destruição permite que o mar avance mais para as dunas primárias.


A espécie Otanthus maritimus (cordeiros-da-praia) já está criticamente ameaçada em muitas partes da costa atlântica europeia devido ao turismo de massas. Em Quiaios ainda não se verifica um turismo de massas - pelo contrário, esta praia está quase esquecida. É por isso que a Natureza aqui ainda está mais ou menos intacta. Mas o que será quando Quiaios for descoberto um dia pelo turismo de massas? Tem de desaparecer a biodiversidade que ainda aqui existe e tem de ser destruída a Natureza aqui também?


Zona das dunas embrionárias com Elymus farctus na Praia de Quiaios - também visível as marcas dos pneus de viaturas que passaram por aqui


Marcas dos pneus de viaturas na Praia de Quiaios

A destruição dos habitats é frequentemente um processo lento e não bem entendido, nem por biólogos ou outros cientistas da especialidade. O ambiente é um sistema dinâmico - uma rede de interdependências complexas. O seu funcionamento não é linear,  mas sim não-linear e de difícil compreensão. Por isso,  temos de ter ainda mais cuidado com ele!

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