Caminhada de Natal para o Cabo Mondego
Caminhada de Natal para o Cabo Mondego
Por Horst Engels
Este ano fiz uma caminhada de Natal para o Cabo Mondego e à volta da
escavação da CIMPOR. Pensei que talvez não seria má ideia de tirar umas
fotografias panorâmicas desta zona. A última caminhada tinha sido aos
cogumelos. E apesar de conhece-los muito bem - nunca se sabe. Mas os
efeitos alucinogénicos já devem ter passado!
Em nome da Associação
Trilhos de Esplendor
desejo lhes todos um Bom Natal e uma Boa Entrada em 2010!
Se quer fazer a caminhada virtualmente, aqui o link para a caminhada virtual através do Google-Earth:
E aqui umas fotografias daquele que encontrei durante a caminhada:
Vale de Anta
-
fazendo parte da área protegida no âmbito do: Monumento Natural do Cabo Mondego
criado pelo
Decreto Regulamentar n.º 82/2007, de 3 de Outubro
,
Na introdução deste decreto pode ler-se:
"Os
afloramentos jurássicos do Cabo Mondego
constituem um conjunto de excepcional importância, nacional e
internacionalmente reconhecida. Para além dos elevados valores presentes
nos domínios da paleontologia de amonites, da paleoecologia de
ambientes de transição, da sedimentologia e da paleoicnologia dos
dinossáurios, este conjunto sobressai, em particular, no domínio da
estratigrafia.
O perfil geológico da passagem aaleniano-bajociano, consagrado como estratotipo de limite pela
International Union of Geological Sciences
, constitui um padrão internacional de referência, que materializa e
representa um limite específico do tempo geológico, o que acontece pela
primeira vez em Portugal.
A qualidade exemplar do registo geológico dos afloramentos emersos e
submersos, expostos de forma contínua e correspondendo a um intervalo de
50 milhões de anos, conjugada com a situação geográfica estratégica,
que proporciona excelentes condições de observação e estudo, conferem ao
Cabo Mondego um valor científico, pedagógico e didáctico inexcedível,
para além do seu grande interesse geomorfológico e notável qualidade
paisagística."
Mapa que contorna a área protegida pelo
Decreto Regulamentar n.º 82/2007, de 3 de Outubro
Sobreposição do mapa que contorna a área protegida (contornada em vermelho) pelo
Decreto Regulamentar n.º 82/2007, de 3 de Outubro
com as áreas da excavação da CIMPOR (destacadas em amarelo) e da área
onde se situam os edifícios da fábrica da CIMPOR (destacada em lilas)
no Google Earth. Download do mapa para Google Earth:
20100104044411-4b41e29b3e2fc7.73909701.kmz
Ainda queria lembrar um projecto semelhante de "Recuperação
ecológico" que foi efectuado na Alemanha em Brühl (mais conhecido pelo
famoso "
Phantasialand
") onde se encontra a "Ville" - um sítio de exploração de carvão (
Rheinische Braunkohle
) e onde se encontravam "buracos" até 470m de profundidade devido às
escavações e onde foram deslocadas populações de aldeias inteiras. No
entanto, as zonas já escavadas foram totalmente recuperadas
(permanecendo no entanto aqueles "buracos" onde as escavações continuam)
e apresentam hoje um exemplo mundialmente reconhecido de recuperação
ecológica (
Kottenforst-Ville
). Foram criados lagos artificiais e plantadas florestas caducifólias
que em fases sucessíveis desenvolveram para biótopos de alta
biodiversidade.
Neste projecto alemão foram necessários 50 anos para
recuperação dos habitats. Mas existe também uma grande diferença em
relação às falésias do Cabo Mondego. Estas nunca mais podem ser
recuperadas! Na Alemanha foi uma planície com terras aluviais que tive
de ser recuperada - aqui são falésias do Jurássico que existem há mais
do que 60 milhões de anos!
Mas se já não é possível recuperar o estado inicial do Cabo Mondego -
paisagem que foi descrita por pessoas que a conheciam há 30 anos ou
mais como maravilhosamente bonita - pelo menos pode-se salvar aquilo que
resta e tirar um proveito melhor do que deixar enormes buracos. É a
minha opinião pessoal que se pode tirar proveito do que resta na medida
que se utiliza esta área da CIMPOR fora da zona protegida
conscientemente para um futuro turismo ecológico. Aquela visão que
desenhei nas imagens anteriores fundamenta-se na observação que falta ao
turismo na zona da Figueira, Cabo Mondego, Quiaios etc. uma componente
essencial:
a possibilidade de poder tomar banho no mar
. Na Figueira e em Quiaios há bandeira vermelha ou amarela talvez
durante 90% da época balnear, de forma que os turistas não podem entrar
no mar. Uma solução seria a construção de áreas artificiais com piscinas
de marés. Isso realiza-se em várias partes do país e do mundo, mas na
Figueira ainda não. E como se vê nas imagens anteriores, a Figueira
tinha todo o potencial para realizar uma atracção turistica destas. A
área da CIMPOR dava para um enorme parque de recreio com piscinas de
marés ou água salgada, ginásios, balniários, campos de ténis etc. sem
necessidade de destruir mais nada do que já está destruído. Pelo
contrário, esta obra desenvolvia um turismo verdadeiramente
internacional na Figueira, sem acrescimos de custos de investimento e
ligava as zonas esquecidas de Quiaios e da Murtinheira como zonas
alternativas para actividades como caminhadas, passeios ecológicos,
hiking etc. à cidade da Figueira. Esta obra oferecia possibilidades
enormes de desenvolver um saudável turismo ecológico na zona, não apenas
na época balnear, mas durante o ano inteiro. E os saudáveis e puros
ares do Cabo Mondego - especialmente para pessoas com doenças asmáticas -
podiam servir para desenvolver uma área balnear e termas com fins
medicinais. Talvez valha a pena pensar nisso!
Ainda gostava de sublinhar que pelo ponto vista prático de uma
possível realização de um plano de recuperação ecológico do Cabo Mondego
incluindo criação de novas infraestruturas como hoteis, piscinas,
balniários, campos de ténis etc., que uma realização destas nunca seria
tão simples como demonstrado nos exemplos anteriores. Estes são apenas
caricaturas humorísticas! Por isso, não se deve tomar essas imagens como
sugestões concretas. Quero lembrar que já existe um Oasis artificial
com palmeiras na Praia da Figueira! - mas uma criação destes é
contestável pelo ponto vista de arquitectura paisagística uma vez que a
Figueira não se situa na África do Norte! Por isso, palmeiras, em
princípio, não deviam aparecer numa paisagem destas (senão talvez a
única espécie nativa da Europa
Chamaerops humilis
que normalmente não cresce mais do que 2-5 m em altura). No entanto,
se olhamos para a vegetação actual do Cabo Mondego nas partes onde
ainda há vegetação - mesmo aí, a vegetação frequentemente é já
constituida maioritariamente por espécies não-autóctones quer dizer
espécies que não provêm da zona do Cabo Mondego ou até da Europa. Por
exemplo as agaves (
Agava americana
) que provêm do México, o chorão (
Carpobrotus edulis
) que provém da África do Sul, as diversas espécies de acácias que
provêm da Australia, certas espécies de pinheiros (possivelmente o
pinheiro-do-alepo (
Pinus halepensis
) que provém do Mediterrâneo), etc. Assim, uma realização de um
projecto de reconstituição ecológica precisava de estudos sérios de
arquitectura paisagística antes de ser realizado. No Kottenforst-Ville,
na Alemanha, foram por exemplo plantadas inicialmente espécies de
árvores não-autóctones, de crescimento rápido para acumulação de humus, e
substituidas mas tardia por espécies que são nativos da zona de
recuperação. Finalmente a importância do Cabo Mondego como Monumento
Geológico também não se deve esquecer num projecto destas.
Talvez não seria uma ideia errada abrir um concurso premiado ou
competição em que todos os interessados na participação do concurso
(arquitectos paisagísticos, estudantes, etc.) podiam elaborar um
projecto pessoal de recuperação das falésias do Cabo Mondego. Basta
pegar num programa como o '
Google Sketchup'
e desenhar uma scena fictícia no '
Google Earth
' para poder transmitir a ideia. E a transformação do mundo,
provavelmente mesmo necessária, faz-se por ideias. A ciência é sobretudo
uma realização de ideias, não de descobertas. O Google Sketchup que na
sua versão básica é gratuito permite desenhar e visualizar um projecto
de arquitectura 3D no Google Earth a partir da topografia do terreno
disponível no Google Earth. Isso seria um projecto verdadeiramente
democrático que podia ser apoiado pelas entidades públicas e privadas
incluindo as universidades portugueses no desenvolvimento de um trabalho
educativo prático que evitava ao mesmo tempo o argumento que o voto em
matérias ambientais seria apenas de uma pequena minoria em Portugal.
Outras contribuições recentes sobre o tema:
Sem comentários:
Hiperligações para esta mensagem